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domingo, 26 de janeiro de 2014

POEMA

Lá vai o poema:

Nada desse mar de nada
faz esquecer que pouco além
das nuvens e das trovoadas
hei de encontrar também
o doce som de tuas risadas
e o toque morno de tua língua
aprisionando forte a minha
numa lentidão destilada:
vida evaporando-se dorida,
vida condensando-se carícia.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

PARA A MOÇA DO 8012, DA XEROX, DA BIBLIO FLORESTAN FERNANDES...

Moça, queria deixar aqui mais um poema para vc, mas estou com problemas de internet em minha casa, por isso só posso deixar, agora, a promessa de um poema, quando as aulas voltarem.
De todo modo, reforço que vc é muito, muito gata, e que eu ainda me encontro apaixonado.
Espero mesmo que reatemos nossos "ensaios", isto é, nossa paquera, brevemente.
Um beijo!

domingo, 19 de janeiro de 2014

EU: SÍSIFO?

Escrevi aqui, no fim do ano passado, que nada mais me dava prazer.
Pois é. Não é bem assim. Há algumas atividades que ainda me dão prazer; e ler é, sim, uma delas. Acho que eu estava cansado, quando escrevi aquilo. Cansado: só isso. Li três ou quatro romances curtos agora em Janeiro, com muito prazer, e estou prosseguindo com a leitura de A cerimônia do adeus, de Simone de Beauvoir, com as entrevistas do Sartre (sim, já estou na parte das entrevistas), e como está agradável essa leitura! Estou aprendendo com, e gostando mesmo dela.
Só resta, então, dizer que apesar disso, a vida só vai ser boa quando for dividida com uma meia laranja, e há uma candidata fortíssima, essa para quem escrevi os últimos poemas de amor deste blog (por últimos quero dizer: até o momento). Ah, moça. Estou com saudades.
É isso.

"TIRAR ONDA"

Sempre me abismou, e ainda abisma, aquele modo de ver as coisas, e de agir, de certas pessoas, que identificam em si mesmos "gostos" moralmente abjetos, mas não tentam corrigi-los - quando isso é possível - ao contrário, simplesmente acabam por basear a própria vida (não totalmente, claro, mas em grande parte) na satisfação deles. Exemplo: uma conhecida minha cujo pai, e por tabela ela própria, gostavam de "tirar onda", de mostrar uma superioridade que muitas vezes nem tinha lastro, era só uma contingência, mas lá estavam eles, usando-a, a contingência, para embasbacar outrem, para fazê-lo sentir-se menor, para se destacarem, para se elevarem a uma espécie de casta superior. Eles faziam isso, e até preparavam a "tiração de onda" previamente. Haviam normalizado esse procedimento, naturalizado, era de seu dia a dia.
Pois bem. Eu, se identificasse em mim esse gosto, o que aliás eu faço - sim, eu gosto de me sentir superior - ao contrário deles eu jamais o naturalizaria, eu jamais serviria a ele. Eu, na verdade, combateria essa minha inclinação - o que, aliás, eu faço.
O Homem é um ser moral, isto é, ele está acima dos outros animais justamente porque é capaz de combate interior (para quem não sabe, a moral é essencialmente combate interior). Quem se recusa a combater, quem aceita suas misérias e naturaliza-as, não está muito longe do orangotango.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

FECHAR O QUADRO?

Até recentemente, eu nutria o plano muito ingênuo de compor uma visão coerente de mundo. Eu almejava "fechar o quadro", preencher as lacunas. Daí me caiu a ficha de que sempre haverá lacunas. É simplesmente impossível fechar o quadro.
No entanto, nós devemos seguir tentando preenchê-las. É parte de nossa condição. Mesmo sabendo que ao se preencher uma, surgem três novas, derivadas da solução.
E pensando bem, se um dia alguém alcançar a coerência total, espero estar bem longe e inalcançável, pois aí só restará tornarmo-nos robôs. Claro, se aceitarmos as proposições em questão.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

NÓS, A NATUREZA, A MÚSICA

Uma pergunta: a música está na natureza, ou é criação inteiramente nossa?
Confesso que não sei. Sem a ação humana, você não a encontra; mas sem o fundo, a estrutura da matéria sonora, tampouco seria possível a qualquer espécie produzi-la.
Será a música uma prova, ou, menos ambiciosamente, um indício, de que o Universo foi de fato criado por um Ser superior?
Caso a se pensar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

UM ASPECTO

Algo que reparei: nós falamos, e pensamos (pensamento verbalizado apenas mentalmente) sem ter consciência do que exatamente vamos falar. Digo: nós começamos as frases sem um saber consciente de onde elas vão dar. Por exemplo: estou sentado na cama, refletindo sobre um assunto qualquer, e então penso: "é tudo muito mais sutil e delicado do que as pessoas costumam pensar". Ora, quando estava pensando "muito mais sutil" eu não enxergava, mentalmente, nem uma pontinha do "costumam"... Mas segui pensando, e a frase toda se formou. 
Isso me leva a constatar que existe um nível mental produtor de linguagem, e que ele não é consciente. Será então inconsciente? Não creio. Penso que se trata de subconsciência, algo que pode em parte ser administrado conscientemente (basta ver que podemos "segurar a língua" quando é necessário), mas que não pode, em termos estritos, ser controlado. Já tentou, por exemplo, só falar algo quando já tiver enxergado toda a frase? Você falaria uma frase por minuto, se tanto! É um trava-pensamento e trava-linguagem super eficiente. 
Pois é. Que não me escape nenhuma abobrinha.  
 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CONHECIMENTO, E CONSEQUÊNCIAS.

Me sinto atrasado. Só ontem, deitado tentando dormir, é que me veio o insight de que o conhecimento e a cultura geral, esses que a gente que é obcecado colhe diariamente nos livros, devem estimular em nós um alargamento da compreensão e da tolerância com relação a pessoas "menos cultas", e não uma atitude fechada, do tipo "você não tem cultura para discutir isso comigo". É preciso que discutamos de tudo e com todos, e quando não conhecermos do assunto - sim, isso acontece, até com quem lê pilhas e pilhas -, simplesmente procuremos ouvir melhor, e dizer pouco; e quando, ao contrário, tratar-se de algo que conhecemos bem, não "douremos" isso com um ar de superioridade. Essa é a questão: o conhecimento, e a cultura geral, não podem ser determinantes de um sentimento, e de uma atitude, de superioridade, mas sim de aproximação e simpatia, aumentando nosso instrumental, e fortalecendo nossa sociabilidade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A IMPONDERABILIDADE DAS COISAS HUMANAS

É engraçado. Eu sempre encontrava, em romances, contos, etc., aquela passagem de enredo: "mas fulano sabia que sicrano não faria isso", ou "e tudo acabou correndo como beltrano sabia que correria", e sempre me sentia estúpido, porque não conseguia fazer isso na minha própria vida, isto é, prever o comportamento dessa ou daquela pessoa, por mais que a conhecesse. O comportamento humano, e mais geralmente as próprias pessoas, tomadas em si mesmas, sempre me pareceram complexos demais, imprevisíveis, imponderáveis. Eu jamais senti que conhecia de fato alguém. Pois é. Mas só hoje, deitado na cama, descansando da leitura, foi que me caiu a ficha que quem está certo provavelmente sou eu...  

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

INTERESSE PESSOAL?

Estou lendo a brevíssima introdução à Política, do Kenneth Minogue, e nela me deparei com uma defesa muito singela do "interesse pessoal": a pessoa persegui-lo é na verdade um bem que ela faz ao grupo e ao outro, já que assim provavelmente estará evitando tornar-se um fardo (para o grupo, ou para o outro). Ora, o autor parece esquecer que esse interesse pessoal, uma vez perseguido, o é em detrimento do outro, e muitas vezes o é na dependência da insuficiência de meios do outro, e nesse caso só faz persistir essa insuficiência. Como os meios não são justamente distribuídos entre os indivíduos, segue-se que a competição, essa tão largamente defendida pelos adeptos do livre mercado, não ocorre de maneira justa, havendo, portanto, a necessidade de se operar "correções" e "compensações", na medida do possível. Tais correções e compensações, não é preciso dizer, têm de ser feitas ou por uma instância superior, agindo em nome do Bem comum, ou por meio de filantropia, em nome da solidariedade.
Será, então, que o "interesse pessoal" deve ser o nosso guia, se queremos viver num mundo mais seguro e justo?