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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

OS DOIS TEMPOS

Descobri recentemente que existem dois tempos. Falo de física mesmo. Há o tempo absoluto, a que tudo, sem exceção, está referido; e há o tempo relativo, que varia conforme a velocidade de resposta dos indivíduos em cada espécie.
Ora, as formigas se movimentam muito velozmente; suas repostas, dito de outra maneira, são muito mais rápidas que as nossas. Logo, elas sentem o tempo de outra maneira, podendo fazer muito mais coisas no mesmo intervalo em que não fazemos quase nada. Logo, seu tempo relativo é outro.
Mas não é possível negar que esse tempo relativo depende da existência de uma dimensão geral, que lhe sirva de referência, caso contrário não poderíamos fazer nenhuma comparação, não poderíamos dizer que tal espécie tem uma velocidade de resposta maior que outra. Essa dimensão é o tempo absoluto. 
Para pensar.

sábado, 18 de outubro de 2014

PEQUENA FILOSOFICE

Na verdade, tudo o que temos de certo, isto é, tudo o que a rotina de "fluxo presencial" contínuo nos faz esquecer da possibilidade de faltar, tudo isso é tão, mas tão adaptável, somos de uma enorme e poderosa flexibilidade, que acabo de me lembrar do "caniço" de Pascal.
Isso posto, o caniço, sem água, não cresce.  

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Mas que descoberta...

Ter convicções é um privilégio do qual a maioria das gentes não se importa de abrir mão.

sexta-feira, 14 de março de 2014

UM CRITÉRIO

Um critério para determinar o caráter moral de uma ação é saber se ela se deu num quadro de domínio de si, por parte do agente. Se sim, ela pode ser uma ação moral. Se não, ela certamente não é.
Ora, se a ação se deu num quadro de descontrole, é óbvio que ela não é uma ação moral, já que moralidade pressupõe escolha, e escolha pressupõe racionalidade.

sábado, 8 de março de 2014

NECESSÁRIO

O ser humano é de tal maneira, que se não tem nenhum fardo para carregar a vida perde o sentido. Ele cai em depressão, ou entra para o mundo das drogas, ou se afunda em relações sadomasoquistas, etc.
Por fardo entenda-se uma quota de obrigações e outra de sofrimento.

quarta-feira, 5 de março de 2014

DO BARRO

Estou vivo, e isso não é coerente. Isso não se sustenta. Deus criou a mim e ao mundo que eu experimento? Mas de onde vem Deus? Esteve sempre aí? Isso tem lógica?
Eu nasci, é fato (ao menos para mim), e as coisas do mundo, e o mundo das coisas, estão aí. Mas nada disso tem começo (embora algumas coisas pareçam ter fim), em termos absolutos. Entretanto, a ideia de eternidade é insustentável. Como resolver o problema?
Creio que o remédio (não a solução) é um movimento que devemos fazer: baixar a cabeça, olhar o chão, e pisar humildemente. Ater-se às coisas do dia a dia. Resolver os problemas concretos. Buscar o equilíbrio (esse chavão da auto-ajuda). Aceitar o mistério, e conviver com ele. Sobretudo isso: aceitar o mistério, e conviver com ele. Somos feitos de mistério. É nosso barro, nossa matéria original.

segunda-feira, 3 de março de 2014

LENDO HEIDEGGER, TOMANDO DECISÕES...

Mergulhando no cúmulo da abstração heideggeriana, e decidindo, muito seriamente, fazer faculdade de Filosofia logo que terminar esta de Letras que estou fazendo.
Na verdade, algumas decisões foram tomadas estes dias. A já mencionada acima, a de tentar trabalhar na iniciativa privada, como professor de português mesmo, e, possivelmente (esta ainda está em "tramitação"): optar definitivamente pelo celibato.
Há muito para estudar. É preciso crescer. Talvez não dê mesmo para me dedicar a alguém...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TENTANDO RESOLVER A CONTRADIÇÃO...

Pois é. Me contradisse.
O que aconteceu foi que eu julgava a minha inclinação a criar sempre a partir de mim mesmo como uma pequena "miséria" minha. Assim, a combatia. Até descobrir que não é uma miséria, e então me despedir do sentimento de culpa e do auto-enfrentamento, nesse caso específico.
Mas não penso que não se deva contrariar a própria natureza em nada. Muitas vezes devemos contrariá-la. Na verdade, sempre que a razão nos apontar problemas em nossa natureza. É preciso trabalhar-se, e todos têm de fazê-lo.
Alguém objetará: mas se a identificação do problema é feita pela própria pessoa que tem o problema, não se dará, sempre, uma circularidade que impedirá qualquer diagnóstico perspicaz?
Talvez. Mas é preciso ter em mente que nós, seres humanos, participamos da Razão, e ela tem de ser universal. Assim, se ela é "operante" em nós, nós temos de ser capazes de auto-avaliação.
Enfim, muito pano para manga.

ME CONTRADISSE.

Caí em contradição. Escrevi, aqui, há poucos dias que não "convém contrariar a própria natureza, em nada", e escrevi também que quem não combate as próprias misérias não está longe do orangotango.
Ponho aqui o reconhecimento do erro. Vou pensar.
Novas ideias, espero, a caminho.

E O HÁBITO DE SOFRER...

Não sinto prazer em sofrer. Mas sim, a melancolia me dá prazer.
Melancolia é um quase-sofrer, uma tristeza mais leve, com um gosto de chuva caindo, e cheiro de passado, de lembrança, de saudade.
Talvez até, a saudade de tudo que ainda não se viu...
Sim, eu sou melancólico.
São momentos deliciosos, pra dizer a verdade.
Mas não podem ser forçados. Têm de ser naturais.
Ou seja, é de vez em quando que se experimenta a melancolia genuína.
A bem da verdade, é pra se dar graças a Deus.



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ERRO PESSOAL, ERRO IMPESSOAL

Uma outra distinção fundamental com relação a erros é a que propõe como erro pessoal aquele erro que o sujeito comete por ser quem ele é, isto é, na estrita dependência da personalidade, oposto a erro impessoal, que é o erro marginal e/ou circunstancial, isto é, aquele que não depende da personalidade do sujeito.
Posso citar, como exemplo de erro pessoal, o abuso de autoridade reiteradamente cometido por certos indivíduos. O fato de ser reiterado não implica burrice, como diz o adágio (cometer o mesmo erro duas vezes...), mas sim a essencialidade do erro, ou seja, o seu vínculo íntimo com a personalidade de seu autor. E como exemplo de erro impessoal, temos o descontrole momentâneo, devido a estresse, de alguém que normalmente é calmo.
Se aprender com um erro circunstancial é bem fácil, já não o é aprender com um pessoal. Uma vez tendo tomado consciência do primeiro, dificilmente repetimo-lo; já quanto ao segundo... consciência não basta: há que se trabalhar fortemente, lá no íntimo, para produzir uma mudança que o impeça.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

MORAL E EDUCAÇÃO

Escrevi, faz pouco tempo, aqui que a moral é essencialmente combate interior. Pois bem. A que leva, no campo da educação, essa forma de concebê-la, a moral?
Penso, para ir direto ao ponto, que não é mais o caso de tentar passar para o educando máximas morais, de modo que ele as seguisse, mas sim procurar desenvolver nele concepções positivas, vinculadas a muitos exemplos - na verdade, encarnadas nesses exemplos -, e fortalecer ao máximo a vontade nele, isto é, dar-lhe força de vontade.
Exemplo: combinar a) fazer o educando participar sempre, e ativamente, das soluções dos seus problemas, evitando (o educador) atrapalhar o processo com frases "enriquecedoras"; e b) fazer o educando esperar, e às vezes esperar bastante, pela satisfação de suas aspirações, tais como um passeio a certo lugar, um presente, etc.
Explicações para os exemplos desnecessárias, não?


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ERRO SUBJETIVO, ERRO OBJETIVO

Tomei consciência de uma distinção bastante importante: a de erro subjetivo versus erro objetivo. 
O primeiro acontece quando não se age de acordo com os dados de que se dispõe; o segundo, quando se age de acordo com os dados de que se dispõe, mas estes, os dados, estão incorretos, sem que se saiba disso.
O melhor exemplo para ilustrar o que digo é o de um tribunal: pode acontecer, e de fato já aconteceu, de se ter um réu cuja culpabilidade é apontada por inúmeras evidências, mas ele é inocente. Assim, sendo condenado, não se terá cometido um erro subjetivo, já que as evidências o culpam, mas se terá cometido um erro objetivo, já que ele é, de fato, inocente.
É isso.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

OUTRIDADE?

Me deparei com uma outridade autêntica, escrevendo um conto. As personagens não são, realmente não são, e isso é novo, daí a ênfase, não são ecos da minha própria alma. Têm personalidade diferente de qualquer projeção que eu faça a partir da minha. Ou, ao menos, é o que penso no momento.
Mas o que queria dizer aqui, de fato, é que tomei consciência de que a busca pela outridade não é a única maneira de escrever, de criar seriamente. Projetar a partir de si mesmo pode ser, sim, uma forma de produzir literatura de qualidade, se essa for a sua forma autêntica, natural. Sim, natural: não convém contrariar a própria natureza, em nada.
Me despeço, assim, de uma fase, e de uma certa culpa.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

CONSERVADORISMO DE MASSA

Só quem é cego não percebe que as pessoas, quando agindo em grupo, raramente tentam mudar abstrações tais como uma concepção hegemônica ou uma barreira moral. Em grupo, elas são conservadoras quase sempre. O que ocorre é que há setores da sociedade - isto é, grupos localizados - onde o espírito de liberdade é maior, e justamente esses setores convertem-se em vanguarda social, partindo deles mudanças que se espalham sub-repticiamente. Quando ocorrem passeatas e afins, já houve o espraiamento.

domingo, 26 de janeiro de 2014

POEMA

Lá vai o poema:

Nada desse mar de nada
faz esquecer que pouco além
das nuvens e das trovoadas
hei de encontrar também
o doce som de tuas risadas
e o toque morno de tua língua
aprisionando forte a minha
numa lentidão destilada:
vida evaporando-se dorida,
vida condensando-se carícia.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

PARA A MOÇA DO 8012, DA XEROX, DA BIBLIO FLORESTAN FERNANDES...

Moça, queria deixar aqui mais um poema para vc, mas estou com problemas de internet em minha casa, por isso só posso deixar, agora, a promessa de um poema, quando as aulas voltarem.
De todo modo, reforço que vc é muito, muito gata, e que eu ainda me encontro apaixonado.
Espero mesmo que reatemos nossos "ensaios", isto é, nossa paquera, brevemente.
Um beijo!

domingo, 19 de janeiro de 2014

EU: SÍSIFO?

Escrevi aqui, no fim do ano passado, que nada mais me dava prazer.
Pois é. Não é bem assim. Há algumas atividades que ainda me dão prazer; e ler é, sim, uma delas. Acho que eu estava cansado, quando escrevi aquilo. Cansado: só isso. Li três ou quatro romances curtos agora em Janeiro, com muito prazer, e estou prosseguindo com a leitura de A cerimônia do adeus, de Simone de Beauvoir, com as entrevistas do Sartre (sim, já estou na parte das entrevistas), e como está agradável essa leitura! Estou aprendendo com, e gostando mesmo dela.
Só resta, então, dizer que apesar disso, a vida só vai ser boa quando for dividida com uma meia laranja, e há uma candidata fortíssima, essa para quem escrevi os últimos poemas de amor deste blog (por últimos quero dizer: até o momento). Ah, moça. Estou com saudades.
É isso.

"TIRAR ONDA"

Sempre me abismou, e ainda abisma, aquele modo de ver as coisas, e de agir, de certas pessoas, que identificam em si mesmos "gostos" moralmente abjetos, mas não tentam corrigi-los - quando isso é possível - ao contrário, simplesmente acabam por basear a própria vida (não totalmente, claro, mas em grande parte) na satisfação deles. Exemplo: uma conhecida minha cujo pai, e por tabela ela própria, gostavam de "tirar onda", de mostrar uma superioridade que muitas vezes nem tinha lastro, era só uma contingência, mas lá estavam eles, usando-a, a contingência, para embasbacar outrem, para fazê-lo sentir-se menor, para se destacarem, para se elevarem a uma espécie de casta superior. Eles faziam isso, e até preparavam a "tiração de onda" previamente. Haviam normalizado esse procedimento, naturalizado, era de seu dia a dia.
Pois bem. Eu, se identificasse em mim esse gosto, o que aliás eu faço - sim, eu gosto de me sentir superior - ao contrário deles eu jamais o naturalizaria, eu jamais serviria a ele. Eu, na verdade, combateria essa minha inclinação - o que, aliás, eu faço.
O Homem é um ser moral, isto é, ele está acima dos outros animais justamente porque é capaz de combate interior (para quem não sabe, a moral é essencialmente combate interior). Quem se recusa a combater, quem aceita suas misérias e naturaliza-as, não está muito longe do orangotango.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

FECHAR O QUADRO?

Até recentemente, eu nutria o plano muito ingênuo de compor uma visão coerente de mundo. Eu almejava "fechar o quadro", preencher as lacunas. Daí me caiu a ficha de que sempre haverá lacunas. É simplesmente impossível fechar o quadro.
No entanto, nós devemos seguir tentando preenchê-las. É parte de nossa condição. Mesmo sabendo que ao se preencher uma, surgem três novas, derivadas da solução.
E pensando bem, se um dia alguém alcançar a coerência total, espero estar bem longe e inalcançável, pois aí só restará tornarmo-nos robôs. Claro, se aceitarmos as proposições em questão.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

NÓS, A NATUREZA, A MÚSICA

Uma pergunta: a música está na natureza, ou é criação inteiramente nossa?
Confesso que não sei. Sem a ação humana, você não a encontra; mas sem o fundo, a estrutura da matéria sonora, tampouco seria possível a qualquer espécie produzi-la.
Será a música uma prova, ou, menos ambiciosamente, um indício, de que o Universo foi de fato criado por um Ser superior?
Caso a se pensar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

UM ASPECTO

Algo que reparei: nós falamos, e pensamos (pensamento verbalizado apenas mentalmente) sem ter consciência do que exatamente vamos falar. Digo: nós começamos as frases sem um saber consciente de onde elas vão dar. Por exemplo: estou sentado na cama, refletindo sobre um assunto qualquer, e então penso: "é tudo muito mais sutil e delicado do que as pessoas costumam pensar". Ora, quando estava pensando "muito mais sutil" eu não enxergava, mentalmente, nem uma pontinha do "costumam"... Mas segui pensando, e a frase toda se formou. 
Isso me leva a constatar que existe um nível mental produtor de linguagem, e que ele não é consciente. Será então inconsciente? Não creio. Penso que se trata de subconsciência, algo que pode em parte ser administrado conscientemente (basta ver que podemos "segurar a língua" quando é necessário), mas que não pode, em termos estritos, ser controlado. Já tentou, por exemplo, só falar algo quando já tiver enxergado toda a frase? Você falaria uma frase por minuto, se tanto! É um trava-pensamento e trava-linguagem super eficiente. 
Pois é. Que não me escape nenhuma abobrinha.  
 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CONHECIMENTO, E CONSEQUÊNCIAS.

Me sinto atrasado. Só ontem, deitado tentando dormir, é que me veio o insight de que o conhecimento e a cultura geral, esses que a gente que é obcecado colhe diariamente nos livros, devem estimular em nós um alargamento da compreensão e da tolerância com relação a pessoas "menos cultas", e não uma atitude fechada, do tipo "você não tem cultura para discutir isso comigo". É preciso que discutamos de tudo e com todos, e quando não conhecermos do assunto - sim, isso acontece, até com quem lê pilhas e pilhas -, simplesmente procuremos ouvir melhor, e dizer pouco; e quando, ao contrário, tratar-se de algo que conhecemos bem, não "douremos" isso com um ar de superioridade. Essa é a questão: o conhecimento, e a cultura geral, não podem ser determinantes de um sentimento, e de uma atitude, de superioridade, mas sim de aproximação e simpatia, aumentando nosso instrumental, e fortalecendo nossa sociabilidade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A IMPONDERABILIDADE DAS COISAS HUMANAS

É engraçado. Eu sempre encontrava, em romances, contos, etc., aquela passagem de enredo: "mas fulano sabia que sicrano não faria isso", ou "e tudo acabou correndo como beltrano sabia que correria", e sempre me sentia estúpido, porque não conseguia fazer isso na minha própria vida, isto é, prever o comportamento dessa ou daquela pessoa, por mais que a conhecesse. O comportamento humano, e mais geralmente as próprias pessoas, tomadas em si mesmas, sempre me pareceram complexos demais, imprevisíveis, imponderáveis. Eu jamais senti que conhecia de fato alguém. Pois é. Mas só hoje, deitado na cama, descansando da leitura, foi que me caiu a ficha que quem está certo provavelmente sou eu...  

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

INTERESSE PESSOAL?

Estou lendo a brevíssima introdução à Política, do Kenneth Minogue, e nela me deparei com uma defesa muito singela do "interesse pessoal": a pessoa persegui-lo é na verdade um bem que ela faz ao grupo e ao outro, já que assim provavelmente estará evitando tornar-se um fardo (para o grupo, ou para o outro). Ora, o autor parece esquecer que esse interesse pessoal, uma vez perseguido, o é em detrimento do outro, e muitas vezes o é na dependência da insuficiência de meios do outro, e nesse caso só faz persistir essa insuficiência. Como os meios não são justamente distribuídos entre os indivíduos, segue-se que a competição, essa tão largamente defendida pelos adeptos do livre mercado, não ocorre de maneira justa, havendo, portanto, a necessidade de se operar "correções" e "compensações", na medida do possível. Tais correções e compensações, não é preciso dizer, têm de ser feitas ou por uma instância superior, agindo em nome do Bem comum, ou por meio de filantropia, em nome da solidariedade.
Será, então, que o "interesse pessoal" deve ser o nosso guia, se queremos viver num mundo mais seguro e justo?