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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

PRIMEIRA AULA DE LATIM

Ontem tive minha primeira aula de Latim. Que professor fantástico! Que aula!
Só apresentação, os alunos falando de seus interesses relacionados à disciplina, e o professor comentando-os. O cara, simplesmente, é uma fera. Fizemos uma extraordinária, absolutamente extraordinária, viagem pelo mundo antigo.
Aqui vai o nome dele: Marcos Martinho dos Santos. Professor Doutor de Língua Latina. USP.
É isso.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

ENGAJAMENTO LITERÁRIO, PARTE III

Para finalizar, gostaria de tratar muito brevemente do utile de Horácio, sob um ângulo contemporâneo. Basicamente, ele se mostra, a nós leitores do Séc. XXI, como a necessidade de a obra literária conter uma mensagem, algo que nos enriqueça, que nos faça crescer, ou mais ingênua e "marketeiramente": que nos amenize as durezas da vida.
Dizia Sidney Sheldon que seu objetivo, ao escrever um romance, era proporcionar ao leitor alguns momentos de prazer descompromissado, uma espécie de pequena ilha, onde se refugiar do mundo por certo tempo. Em suma, escapismo. Não é disso que falarei aqui. Não creio que o escapismo nos enriqueça ou nos estimule algum crescimento. Talvez amenize um tantinho, mas... parece-me óbvio que não é o caso de tratar dele neste post.
Falarei, antes, daquela literatura cujo produtor - o escritor - mostra compromisso com uma melhora, ou evolução, de seu público.
Pois bem. Primeiro ponto a assinalar: é uma atitude vertical, assumir tal compromisso. O autor se coloca como alguém que tem o que ensinar, ou seja, acima de seu leitor. Dirão, assim, que ele é arrogante, ou soberbo.
Ora, eu sustento com veemência que se você não tem algo a ensinar, seja diretamente, seja de modo enviesado (o mais comum, hoje, ainda que seus adeptos não tenham consciência dele, e se autodeclarem negativistas), você simplesmente não tem o que escrever, e não deve escrever. Todo autor, se é original, está acima de seu público. Ponto.
Segundo: os valores são relativos, e essa atitude, que não tem como não ser moralista, é parte de uma visão unilateral e simplista da vida.
Muito bem. Depende. Uma literatura moralista em nível ingênuo certamente é algo condenável, mas em nível profundo e consciente, não passa nem perto disso. Quem pode negar que Anna Kariênina é um romance moralista? E A queda, de Camus? E toda a obra machadiana, com sua crítica sutil, mas feroz, da sociedade corrompida da época? E Eça? E Flaubert? O olhar agudo para as mazelas, a denúncia, tem como implicação o desejo de mudança, e não há grande autor que não tenha enxergado microscopicamente a sujeira de seu entorno. Quem se cala, em nome de uma atitude de artiste, de uma originalidade que só pode ser mesquinha, e se põe a vegetar esteticismos, esse alguém está tão somente fugindo do problema. Ponto.
Por fim, terceiro: o autor, ao se comprometer com algo que não depende apenas dele, está, sartreanamente,  objetificando o leitor. Está colocando-o como um receptáculo, como um ser passivo. Ler é construir, e não há como estimar o resultado disso, uma vez começado.
Ora, tanto é possível estimar, que a comunicação se dá, e se as interpretações diferem, também têm um núcleo comum, inevitável. O fato de se poder ler uma obra e construir um sentido para essa leitura que vá contra o almejado pelo escritor não impossibilita a produção engajada, mas sim torna a arena, o debate crítico, uma realidade incontornável. Talvez seja essa a maior intenção do autor.
Continuando, tentar passar algum valor para alguém não é objetificá-lo, não é torná-lo passivo, já que o que se busca é a intelecção do valor. Uma vez conhecido, o leitor está ainda na esfera de sua liberdade, para adaptar o que leu à realidade que vivencia.
Enfim, assunto para muita discussão. Não estou, realmente não estou, satisfeito com meus três posts, mas tenho de encerrar a série, simplesmente porque preciso refletir melhor. Espero ter transmitido algo.
Auf wiedersehen!




segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ENGAJAMENTO LITERÁRIO, PARTE II



Mas, como disse no post anterior: a noção de engajamento ainda é entendida pela maioria como engajamento político de esquerda
Me lembro que, quando comecei a faculdade de Letras, em 1998, assimilei muito rápida e levianamente a ideia da "função" da obra literária: o "despertar a consciência" do leitor para a realidade de luta de classes, e a necessidade, então, de trabalhar pela sua superação. Para mim, não havia nada que prestasse fora desse quadro. 
Ora, é forçoso notar que a maioria das obras literárias está, de fato, fora desse quadro. É, ainda, forçoso notar que certos críticos tentam trazer, a golpes de marreta, obras de sua predileção para esse quadro, a despeito da visível deformação que têm de impor a elas. Para dar exemplos, poderia citar Dom Quixote, Os sofrimentos do jovem Werther, ou mesmo, um tanto polemicamente, A montanha mágica e Madame Bovary, este último, como membro, protótipo perfeito, da escola realista, mas um caso de grande complexidade que extrapola qualquer visão ideológica que se lhe tente impor. Há, mesmo, autores essenciais cuja obra inteira muito dificilmente suportaria o enquadramento marxista: falo, principalmente, de Albert Camus. Mas poderia citar também Clarice Lispector.
O grande problema desse caso é que os críticos marxistas não concebem absolutamente nenhuma verdade fora do modelo de que se servem. É o que está na grade, e ponto final. Cito, para ilustração, o caso bem óbvio de Roberto Schwarz e sua análise do episódio "A flor da moita", acerca da personagem Eugênia, das Memórias póstumas de Brás Cubas. A moça, como se sabe, é coxa, e Brás Cubas a trata do modo pequeno, mesquinho e vil digno de sua personalidade. Pois bem. R. Schwarz coloca em primeiro plano o fato de ela ser pobre, e, indo além, sobrepõe a pobreza ao defeito físico, praticamente anulando este último. Como Brás Cubas chega a ficar noivo, mais adiante no livro, de uma moça pobre porém sem qualquer problema físico, creio que fica claro a forçada de mão de R. Schwarz. 
Isto posto, a grade marxista proporciona sim interpretações interessantes do romance de Machado de Assis. Mas há muito fora do foco dela.
Se nossos intelectuais, nossos homens grandes, R. Schwarz entre eles (sem qualquer ironia), admitissem que seu método não é universal, o ganho, para todos, leitores e escritores, seria enorme.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENGAJAMENTO LITERÁRIO, PARTE I

Começo a série de posts sobre o engajamento literário, série que tenho a intenção de honrar aqui no blog, discutindo a proposta de David Grossman, que ele formulou no Roda Viva, algum tempo atrás, mais ou menos da seguinte maneira: "escrevo não para fazer a pessoa se sentir bem, mas sim para destruí-la, porque dessa destruição surgirá algo de positivo, na necessidade que a pessoa terá de promover uma reconstrução".
Se poderia dizer que se trata de engajamento, da parte dele? Ou de irresponsabilidade? Vejamos.
A noção de engajamento tem um "ranço" político fortíssimo. Até hoje "literatura engajada" é fundamentalmente aquela que se coloca como promotora da Revolução Socialista (ou Anarquista, Comunista, enfim... as de esquerda), com mui variados graus de mediação. É então, forçosamente, uma forma de colocar-se a serviço do Bem-geral, de uma felicidade extensiva a quase todos, radicada no fim das opressões econômicas e seus correlatos (coloco aqui o projeto, que ainda existe, e não as suas realizações concretas, todas muito criticáveis). Ou seja, trata-se de literatura submetida, integrada numa proposta (numa esfera) mais ampla, que a contém e que dá a ela o seu principal sentido de ser. Impossível não lembrar do dulce et utile de Horácio, assim como é impossível não lembrar de toda a literatura de auto-ajuda. Há algo em comum entre o engajamento e as duas.
Ora, Grossman coloca-se essencialmente como alguém que constata a necessidade de um pensar diferente, da renovação como um valor-em-si. Ele não assume a verticalidade do engajamento tradicional (o posicionar-se "acima"); ao contrário, dá o martelo na mão do leitor, para que ele, o leitor, faça da ferramenta o uso que julgar adequado (a foice é usada para dilacerar o dono da mão que usará o martelo...). Se o leitor entrará para algum movimento político, ou se buscará a auto-ajuda, ou se mergulhará em tristezas e impotência, ou, enfim, se cometerá suicídio, não está de forma alguma garantido, e nem se pode dizer que seja almejado. O escritor assume o risco, que é radical, de uma tentativa de viabilização de um momento de liberdade plena, apoiado na ideia de reconstrução. Bem sabemos que isso é perigoso ao extremo...
É, todavia, uma maneira de ser útil, e assim se explica a referência a Horácio, e é também uma maneira de estimular a auto-ajuda (em sentido lato), embora de maneira não vertical, e de modo algum marcada por falsa sabedoria.
      

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O DISCURSO DO LOBO ANDARILHO

Como é bom andar pelas matas, pelas trilhas que cortam as matas, pelas calçadas cinzentas, a tentar, em vão, esconder seu passado em preto e branco! Andar, simplesmente andar! Levo, sempre, a cabeça baixa... Se a necessidade de ser humilde não é motivo suficiente, e ela certamente não é, contenta-te, amigo, com a necessidade de se evitar as fezes, tanto as biológicas quanto as sociais. Sim, eu disse isso. As biológicas são tanto de cachorro ou gato, quanto de gente. E as sociais são gente mesmo, que a nossa grande, enorme, engenhosidade purgou aguadas e amarelas, junto aos rodapés das lojas fechadas, sabiamente fechadas... A gente só entende mesmo para que serve um pedaço de caixa de papelão quando vê uma cena dessas. E o carimbo de “frágil” não é ironia: é apenas reciclagem. Devia vir sempre acompanhado do made in... Ah, como estou farto dos pseudo-argumentos “é preciso correr atrás!”, “se chegou a esse ponto, a culpa com certeza é dele mesmo!”, “nenhum trabalho é vergonha!”, e por aí vai! Quando é que nos aceitaremos humanos?!... Quando é que compreenderemos que o crack, o vício corrosivo, está na esquina de qualquer, qualquer casa?!... Seja ou não seja culpa dele, tenha ele ou não tenha negado trabalhos por vergonha, é dever de quem evita pisá-lo evitar algo mais: evitar a sua zoomorfização. Por mais sujo, é ainda um “primata superior”, isto é, um dos nossos, e não um gambá... Dá tua mão a ele, amigo! É preciso enxergar um como... Mas às vezes também levanto a cabeça! E os rostos bem cuidados me inspiram afeto e alegria, sempre pontilhada de sorrisos. Todos têm aparelhos, mas a maioria ignora isso... Me perguntarão: você vê seus dentes com aparelho?... Respondo que não. Os meus são amarelos mesmo. E esse é um dos principais motivos por que ando, ando constantemente. Preciso andar. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

UMA VERSÃO PARA "ALL I ASK OF YOU"

NOITE E DIA (É SÓ O QUE PEÇO DE TI)


(ele)
A vida é cheia de escuridão
E o medo espreita atrás das árvores
Por isso estou aqui, ao teu lado,
Para sofrer o mesmo fado teu
Para ser tua asa, e teu cajado,
Para secar tuas lágrimas,
Ainda que sejam feitas de oceano:
Bastarão para mim todos os séculos vindouros.

(ela)
Diz que me levarás contigo,
Para onde o pôr-do-sol nada termina,
Diz que sou tua espada, e teu chão,
Que então eu me gastarei em proteger-te
É só o que peço de ti  

(ele)
Dá-me todo o teu peso,
Dá-me todo o teu rancor,
Que deles farei uma carícia,
Pousando em teu peito, como uma flor

(ela)
De hoje em diante não sou livre
Porque tenho o que perder
E as águas, que sempre correm,
São meu inexorável desafio

(ele)
Diz, então, que posso ser útil, e salvar tua alma
Aprisionando a minha, eternamente,
Diz que meu focinho e meu pêlo, grosseiros,
Não ofendem tua delicadeza de fada
É só o que peço de ti

(ela)
Diz que minha salvação demanda que vivas,
Diz, e só então me salvarei

(ambos)
Divide comigo cada abismo, e cada raio de sol

(ela)
Diz que me queres, ainda que imperfeita...

(ele)
Tu sabes que sim…

(ambos)
Noite e dia, é só o que peço de ti...