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terça-feira, 30 de outubro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CAN YOU PLAY THE BALALAIKA?

Aprende-se muito conhecendo a história da União Sovi-falta-de-ética: de como sonhando se constrói uma catástrofe; de como sonhando, em meio à catástrofe, se elimina a catástrofe, e se produz razoável felicidade; de como fingindo que se sonha, se busca aumentar e garantir a razoável felicidade (que é, por natureza, sempre incerta), e se volta à catástrofe; de como delirando, em meio à nova catástrofe, se mata o sonho antigo, e se adere à combinação catástrofe/felicidade mais comum, menos radical, e mais covarde.

O homem deve sonhar sempre, mas... a História não dorme nunca, e é dura como um balde d'água. Fria.

É uma pena.

domingo, 28 de outubro de 2012

SÍTIO ARQUEOLÓGICO-LINGUÍSTICO

O maior otimista da história foi o cara que batizou a capital da Finlândia.
Ou era um grande culpado.
Ou odiava os peixes (quem sabe engasgou-se com uma espinha e inverteu as coisas, tratando a vítima como agressora).
Podia bem ser, no entanto, um grande poeta romântico, na linha "mal do século"...


sábado, 27 de outubro de 2012

UM NOMINALISTA...

Drummond aconselha: "Só escreva quando não puder deixar de fazê-lo, e sempre se pode". Eu precisei não ter alternativas, e me dedicar somente à escrita, para entender que o poeta chamava "dormir" de "escrever"...

ATIVISMO SABÁTICO

Não sei quem me provoca mais aversão: se a Recebe-santo-da-cabeça-ôca, ou sua filha o Balão-caldo-maggi, ou a Mrs. górgeouna, ou a Loba-que-quis-homem. Tudo peçonha-bisonha.

PAUL SIMON TAVA DE PRETO, MAS NA VERDADE NÃO ERA NÃO...

Certos artistas demonstram uma incapacidade tão gritante de cumprir com o papel que lhes deveria caber, que só posso lamentar ter depositado algumas de minhas fichas neles.
Mas não: não vou ceder à avareza. Continuarei um mão aberta, especialmente no que se refere a fichas e a jovens talentosos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ROUSSEAU


Acabo de concluir a leitura dos dois volumes dedicados a Rousseau da col. Os pensadores (compreende Do contrato social, Ensaio sobre a origem das línguas, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Discurso sobre as ciências e as artes). Leitura instigante, argumentação talentosíssima e até certo ponto perspicaz. Fica-se tentado a concordar com ele, mas... não posso fazer isso.
Grosso modo, Rousseau julga o Homem bom por natureza, e põe a sociedade, não em todas as suas variantes, mas talvez na maioria delas, como corruptora e debilitante. Ata a essa vicissitude da sociedade o cultivo das ciências e das artes.
Muito bem. Ocorre que Rousseau entende por estado de natureza não só nossa pré-História, mas sim uma zona fluida, que compreende, sim, a pré-História, mas também os aborígenes da Austrália e os índios norte e sul-americanos. Ocioso é esclarecer que tais culturas podem ter uma complexidade e sofisticação imensurável, e que o que baseia o julgamento de Rousseau é um preconceito euro-setecentista. Ele crê numa simplicidade que pode muito bem não existir, em boa parte dos casos. Sua tese de que as ciências e as artes caminham sempre juntas com a vilania, em forma de preguiça, cobiça, paixão da nomeada, e exploração do próximo, pode bem ser desmentida pelos mesmos exemplos que ele usa, o dos povos ameríndios, cuja cultura (eu não sou antropólogo, mas tenho por certo, baseado em contatos fortuitos e diversificados com livros, revistas, matérias de jornal e de TV, o que vou afirmar) muitas vezes tem aspectos de sofisticação moral, religiosa, numa palavra: holística, que não são acompanhados pela vilania, de modo algum.
Outro ponto a destacar, neste curto espaço, é a "concessão" que Rousseau faz: as ciências e a filosofia podem ser um bem, se cultivadas pelas "pessoas certas". Ora, quem decidirá quais são as pessoas certas?... Haverá um sábio-mor que dará concessões para estudo de ciências e/ou de filosofia a esse ou àquele indivíduo, mediante algum tipo de auscultação? Qual a metodologia para tanto? Ou não existe esse sábio (o que é óbvio)? Se não existe, então qualquer pessoa pode tentar as ciências e a filosofia, e então a "concessão" que Rousseau faz leva, necessariamente, à repetição da situação atual, ou a uma situação muito parecida? Ou, talvez, as vocações científicas serão atestadas pelo reconhecimento dos semelhantes? Mas se só alguns estão aptos a procurá-las e de fato exercê-las, como esses outros, inaptos, ineptos, poderão julgá-los coerente e justamente?
Rousseau não responde a essas questões, talvez porque seja do século XVIII e não me tenha lido, nem venha a ler. Resta-nos pensar com a própria cachola. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Máquina do Mundo


The Universal Machine

Listen to me, my friends!
I have something to say!
Listen to me!

All, all is alive!
All is alive, I say!
And much is pain!
But much is Love...
Much is Love...

All that feels
And all that is felt
Is nothing but the knowledge
That I bring with myself!

And all that thinks
And is thought...

Hate me! Yes, hate me!
And then love me...
And swallow me, spit me,
And Learn me...

Cos' the major lesson
Is that I'll live forever in your hearts
Be you aware of that,
Or simply carry the pain of doubt!



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

FAUSTO, DE GOETHE


Uma das mais belas cenas da literatura ocidental:
Fausto, centenário e cego, ouve o barulho de pás, e de escavações, e crê que se realiza uma grande obra de drenagem de um terreno (ele está sempre aspirando às grandes coisas), obra que ele já planejara e ordenara  antes da cegueira, mas... o que se faz é cavar a cova dele, ordem dada por Mefistófeles. Os "operários" são lêmures, servos do "baixíssimo".
Que poder de símbolo tem essa passagem!... Seria o quê? O homem que, dia após dia, tropeço após tropeço,  anela grandes feitos, mas, trágica e ironicamente, só faz se preparar para a tumba?... Bem, essa é a minha leitura, assim, fresquinha, logo após fechar o livro. Trata-se, no entanto, de uma obra cuja fortuna crítica, como bem aponta o responsável pela edição que li, o prof. Marcus Vinícius Mazzari, já ultrapassa os dez mil títulos. Se alguém se dedicar, a vida toda, a só ler sobre o Fausto, ainda assim não conseguirá ler tudo o que já foi publicado... Ou seja: possibilidades interpretativas infinitas.
Só resta dizer: amigos, houve alguns gênios literários em nossa história, mas só houve um Johann Wolfgang von Goethe.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O ALMOÇO

O ALMOÇO

A hora é calma, vazia,
Mas a comida não é insossa;
Lá fora estão esburacando a rua,
Enquanto eu penso em mulheres nuas,
E como minha pêra doce,
Antepasto excêntrico, como os dias
Que preparam a morte...

Estou só, e almoço,
Numa cozinha tão despida de encantos,
E o instante a chamar-me à coerência,
A olhar somente à frente,
E esquecer passados prantos,
E superar os destroços
De minha indecifrável sorte...

Mas este momento revela mais em si:
Nele, materializa-se o inescapável,
A eterna lavra do quotidiano,
A religião sem nome do devir.