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domingo, 30 de dezembro de 2012

SEJA BEM-VINDO, 2013!

Ouça mais, em 2013.
Ouça melhor, em 2013.
Abra mais os olhos,
E demore mais no olhar, em 2013.
Esteja mais atento aos cheiros, em 2013.
Sinta melhor, com menos pressa, os gostos, em 2013.
Toque quem você ama,
E quem você tocar, tente tocar de um modo especial, em 2013.
Reflita mais, e mais generosa, mais pacientemente, em 2013.

Parece difícil fazê-lo? Certamente não...
Para consegui-lo, o principal é a consciência
Que essa época do ano - para uns alegre, para outros tétrica -,
Desperta em nós tão clara e fortemente:
A de que estamos aqui de passagem;
Estamos aqui para aprender.

Assim, abra os braços, e receba 2013
Como se recebe um presente valiosíssimo:
Uma grande chance de renovação,
Rumo ao saber.





sábado, 29 de dezembro de 2012

O DESAFIO BÁSICO



Olhe bem.
Não adianta: você terá de enfrentá-la, se quiser fazer a vida valer a pena.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DE LUTAS E CONSTRUÇÕES

Não se luta, drummondianamente, com palavras apenas escrevendo. Também se luta essa mesma luta lendo, como já comprovou qualquer um que já tentou ler Adorno, Lukács, ou Bakhtin (meu caso agora...). 
Esse último, no entanto, diferente do primeiro (o segundo me é totalmente opaco), parece fazer muito sentido, pelo que construo a partir dos fragmentos que consigo compreender de sua Estética da Criação Verbal, que estou lendo agora.
Isso me leva a pensar que a leitura, às vezes, é mais interessante pelas elaborações que suscita, do que pela simples transmissão de ideias.
Talvez.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL!

A todos os amigos, um Natal alegre, se melancólico, e prudente, se entusiasmado.
Quisera poder espalhar pelo ano todo o que sinto nesta época, mas... é próprio do que sinto não se espalhar.
Merry Christmas!
Feliz Natal!

domingo, 23 de dezembro de 2012

O QUE É VONTADE?

Penso que para começar a responder às perguntas elencadas no post passado, é preciso dar uma definição satisfatória de vontade.
Proponho, logo de início, uma: vontade é a capacidade de executar, a partir de uma decisão.
Ora, é forçoso lembrar que "desejo" e "vontade" pertencem a esferas distintas do sentir e do fazer humanos. O primeiro é gerado nas profundezas do inconsciente, enquanto a última é necessariamente consciente.
É preciso, ainda, diferenciar a capacidade geral de uma mobilização particular dela: todos os humanos temos a capacidade geral de desejar, e temos desejos particulares, que são mobilizações particulares dessa capacidade geral; temos, também, por sua vez, a capacidade geral de vontade, que deve ser distinguida de mobilizações particulares (não estou certo de que todos nós tenhamos vontade. Mas creio que a maioria tem).
O desejo nos é inerente, é de nossa natureza. A vontade deve ser desenvolvida, e constantemente alimentada e fortalecida.
É óbvio que o fortalecimento da vontade se dá também mediante uma dominação do desejar.
Fica, ainda, a dúvida: sendo a vontade uma capacidade de executar, a partir de uma decisão, que papel teria o inconsciente nessa decisão, isto é, o quão determinada por fatores externos, ou internos em nível profundo, ela é?


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

PERGUNTAS, PARA O FUTURO PRÓXIMO DESTE BLOG

Alguma coisa, alguma realização, é resultado da vontade humana? Ou é tudo determinismo? E se é, em que medida se trata de determinismo sociológico, psicológico, ou biológico? E o que é, afinal, vontade?
Dedicarei alguns posts, os próximos, a ensaiar respostas a essas perguntas.
Por enquanto, fica apenas a sua menção...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

LÍNGUA ESTRANGEIRA

Tenho para mim que um dos grandes, dos maiores, prazeres intelectuais que alguém pode ter é aprender uma língua estrangeira. Ir aos poucos dando sentido ao que de início era um monte de sons aparentemente aleatórios, definitivamente, é maravilhoso.
Das que eu conheço: Inglês, Francês, e Alemão, sem dúvida a de que mais gosto, a que mais amo, é o Alemão.
É o caso de dizer: Viel Grüße!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O IMPROVISO FÁUSTICO


Me deitei ao lado dela,
Me deitei ao lado dela!

O sopro era ardente, era veemente,
E o aroma de rosa vermelha, de fêmea,
Me ensinava a desaprender,
A desaprender... para amar...

Me deitei ao lado dela,
E amei-o, o lado, com todos os meus...
Com tudo o que pude...

Me deitei,
E ao lado dela, encontrei a genuína prece:
A que agradece,
               Ocupada em silenciar-se.
  

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PARA "FERNANDA"

Chamo-a de Fernanda, mas não sei o nome verdadeiro.
Sei que ela tem a beleza do pinheiro, quando em época de Natal.
Sei que ela é simples como uma ideia cristã.
E sei bem que meu espírito já se prepara para a viagem, rumo à Estação Finlândia:
É que quando me lembro dela, bate-me uma vontade, tão terna, de chamá-la... Nanda.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O POEMA MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA: TEMPOS RUINS PARA A POESIA

Tempos ruins para a poesia

Sim, eu sei: apenas o sujeito feliz
É benquisto. Sua voz
É ouvida com prazer. Seu rosto é bonito.

A árvore recurvada no quintal
É sinal da terra empobrecida, mas
Os passantes tacham-na de raquítica
E têm toda a razão.

Os barcos verdes e as alegres velas no canal
Eu não enxergo. De tudo
Vejo apenas a estropiada rede dos pescadores.
Por que fico o tempo todo a dizer
Que uma aldeã quarentona anda encurvada?
O peito das moças
Continua cálido como sempre.

Em minha canção uma rima
Se me afigura quase um gesto arrogante.

Dentro de mim digladiam
O encanto provocado pela macieira em flor
E o horror suscitado pelos discursos do pintor de paredes.
Mas apenas o segundo
Me impele à escrivaninha.

                                                                   Bertolt Brecht.




domingo, 9 de dezembro de 2012

UM PARAGRAFOZINHO...

Descobrir-se importante, verdadeiramente importante, para alguém que não é seu parente, isto é, para alguém que não lhe foi imposto pela Natureza, e que você próprio, por sua vez, considera importante - tal descoberta é um atestado universalmente válido de vivente. Não hesite em levá-lo para todo lugar onde for.
Agora... se ao invés de "importante", o caso é de usar a palavra "amado(a)", então... o atestado, amigo(a), é o contrário: defunto(a). Atualmente locado(a) no Paraíso.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A VERY LITTLE POEM

None of my dreams is steel
None of my smiles is rubber
How can I possibly be ready to feel
If all the mysteries are over?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UMA PEQUENA CONFISSÃO

Ultimamente a felicidade tem se manifestado sob formas tão simples e despojadas...
É, certamente, um começo.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A LEI DO ESFORÇO MÁXIMO

Não tenho lido quase nada, nas últimas semanas... Mas como tenho aproveitado o que leio!
É preciso, amigos, ler pouco!


domingo, 2 de dezembro de 2012

A NOVIDADE VEIO DAR À PRAIA...

Pra que servem os dias tristes?
Não sei...
Me parece próprio deles não terem serventia alguma...

Mas no meu caso há algo que fica sempre patente: ela existe, e eu tenho que esperar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O QUE PEDRO ÁLVARES NÃO VIU

Acabo de descobrir, de, digamos, deixar meu olho ver, que o ser humano é bom por natureza. As desgraças são mais produto da coletividade, de seus padrões e vigilantes do peso, que de alguma vilania inerente à humanidade. Só que não consigo ter um rosto humano olhando-me no espelho, e sei que estou bem longe de mau. Ora, vejam: estou em xeque.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PESQUISA DESINTERESSADA

Nada é indecifrável. O que não se decifra é apenas obscuro, e permanece assim até que se desista dele, e se vá fazer algo mais produtivo e agradável.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A FONTE NATURAL DE ESPERANÇA

É imensamente prazeroso fazer a coisa certa. Não sei se há prazer maior que esse, e mais sublime.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MORAL E CIRCUNSTÂNCIA

É inevitável que quem esteja sob o rolo compressor dê prioridade máxima a si mesmo. Quando muito bom, dará prioridade igual aos seus (filhos, cônjuge, etc.). Se colocar-se abaixo destes, trata-se, evidentemente, de um(a) santo(a).

sábado, 17 de novembro de 2012

DISCUTINDO DRUMMOND

Lutar com palavras só é uma luta vã se a grande motivação é algum tipo de prêmio, de cinturão. Ao contrário, quando se tem consciência de que sempre se perde, e mais: de que a perda é vitória, quando o resultado é uma via que de fato se abriu, ainda que para um lugar diferente do pretendido, aí a luta não tem absolutamente nada de vã. É a luta de todos nós: a da sobrevivência.   

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A DOIS PASSOS DE COMEÇAR

A estrada é invisível. Sabemos que estamos nela pelo bater do nosso peito, pelo fluxo que ele gera em nosso pensamento. Quando esse fluxo torna-se repetitivo, e da angústia só restam lembranças, é porque chegamos.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

A MÃO ESTENDIDA

Um filho é como uma garrafa, com uma mensagem dentro, lançada ao mar, na esperança de que ela volte - rachada, suja, marcada de todo jeito, que seja! - mas com nossa mensagem intacta, ainda que transliterada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NOVO AUTOR NO BLOG

Olá amigos(a).
Só venho aqui iniciar minha participação no filósofo, com imenso prazer. Fui convidado a tanto por meu comparsa Pastoramis Silvícola, e aceito, como aceitei, tão agradecido como surpreso. É que somos muito diferentes... Isso posto, creio poder contribuir para o blog trazendo discussão de nível mais que razoável, se me permitem a ousadia meio que gabola. Mais vale um amigo para discordar sempre de nós, que muitos que se calam e nos deixam errar pela escuridão.
Abraços a todos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ASPIRINA

Não importa se seus dons são produto da engenhosidade humana ou da onipotência divina; seja sua mão uma geringonça de metal e fios elétricos, ou a simples mão humana de carne, ossos e nervos "saudáveis", a única coisa certa a fazer é usá-la bem, e para o bem. Se fizer isso, você está no caminho certo, ainda que... ainda que a verdade pareça estar cercada por um muro branco e silencioso, não se podendo vê-la, nem ouvi-la.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CAN YOU PLAY THE BALALAIKA?

Aprende-se muito conhecendo a história da União Sovi-falta-de-ética: de como sonhando se constrói uma catástrofe; de como sonhando, em meio à catástrofe, se elimina a catástrofe, e se produz razoável felicidade; de como fingindo que se sonha, se busca aumentar e garantir a razoável felicidade (que é, por natureza, sempre incerta), e se volta à catástrofe; de como delirando, em meio à nova catástrofe, se mata o sonho antigo, e se adere à combinação catástrofe/felicidade mais comum, menos radical, e mais covarde.

O homem deve sonhar sempre, mas... a História não dorme nunca, e é dura como um balde d'água. Fria.

É uma pena.

domingo, 28 de outubro de 2012

SÍTIO ARQUEOLÓGICO-LINGUÍSTICO

O maior otimista da história foi o cara que batizou a capital da Finlândia.
Ou era um grande culpado.
Ou odiava os peixes (quem sabe engasgou-se com uma espinha e inverteu as coisas, tratando a vítima como agressora).
Podia bem ser, no entanto, um grande poeta romântico, na linha "mal do século"...


sábado, 27 de outubro de 2012

UM NOMINALISTA...

Drummond aconselha: "Só escreva quando não puder deixar de fazê-lo, e sempre se pode". Eu precisei não ter alternativas, e me dedicar somente à escrita, para entender que o poeta chamava "dormir" de "escrever"...

ATIVISMO SABÁTICO

Não sei quem me provoca mais aversão: se a Recebe-santo-da-cabeça-ôca, ou sua filha o Balão-caldo-maggi, ou a Mrs. górgeouna, ou a Loba-que-quis-homem. Tudo peçonha-bisonha.

PAUL SIMON TAVA DE PRETO, MAS NA VERDADE NÃO ERA NÃO...

Certos artistas demonstram uma incapacidade tão gritante de cumprir com o papel que lhes deveria caber, que só posso lamentar ter depositado algumas de minhas fichas neles.
Mas não: não vou ceder à avareza. Continuarei um mão aberta, especialmente no que se refere a fichas e a jovens talentosos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ROUSSEAU


Acabo de concluir a leitura dos dois volumes dedicados a Rousseau da col. Os pensadores (compreende Do contrato social, Ensaio sobre a origem das línguas, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Discurso sobre as ciências e as artes). Leitura instigante, argumentação talentosíssima e até certo ponto perspicaz. Fica-se tentado a concordar com ele, mas... não posso fazer isso.
Grosso modo, Rousseau julga o Homem bom por natureza, e põe a sociedade, não em todas as suas variantes, mas talvez na maioria delas, como corruptora e debilitante. Ata a essa vicissitude da sociedade o cultivo das ciências e das artes.
Muito bem. Ocorre que Rousseau entende por estado de natureza não só nossa pré-História, mas sim uma zona fluida, que compreende, sim, a pré-História, mas também os aborígenes da Austrália e os índios norte e sul-americanos. Ocioso é esclarecer que tais culturas podem ter uma complexidade e sofisticação imensurável, e que o que baseia o julgamento de Rousseau é um preconceito euro-setecentista. Ele crê numa simplicidade que pode muito bem não existir, em boa parte dos casos. Sua tese de que as ciências e as artes caminham sempre juntas com a vilania, em forma de preguiça, cobiça, paixão da nomeada, e exploração do próximo, pode bem ser desmentida pelos mesmos exemplos que ele usa, o dos povos ameríndios, cuja cultura (eu não sou antropólogo, mas tenho por certo, baseado em contatos fortuitos e diversificados com livros, revistas, matérias de jornal e de TV, o que vou afirmar) muitas vezes tem aspectos de sofisticação moral, religiosa, numa palavra: holística, que não são acompanhados pela vilania, de modo algum.
Outro ponto a destacar, neste curto espaço, é a "concessão" que Rousseau faz: as ciências e a filosofia podem ser um bem, se cultivadas pelas "pessoas certas". Ora, quem decidirá quais são as pessoas certas?... Haverá um sábio-mor que dará concessões para estudo de ciências e/ou de filosofia a esse ou àquele indivíduo, mediante algum tipo de auscultação? Qual a metodologia para tanto? Ou não existe esse sábio (o que é óbvio)? Se não existe, então qualquer pessoa pode tentar as ciências e a filosofia, e então a "concessão" que Rousseau faz leva, necessariamente, à repetição da situação atual, ou a uma situação muito parecida? Ou, talvez, as vocações científicas serão atestadas pelo reconhecimento dos semelhantes? Mas se só alguns estão aptos a procurá-las e de fato exercê-las, como esses outros, inaptos, ineptos, poderão julgá-los coerente e justamente?
Rousseau não responde a essas questões, talvez porque seja do século XVIII e não me tenha lido, nem venha a ler. Resta-nos pensar com a própria cachola. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Máquina do Mundo


The Universal Machine

Listen to me, my friends!
I have something to say!
Listen to me!

All, all is alive!
All is alive, I say!
And much is pain!
But much is Love...
Much is Love...

All that feels
And all that is felt
Is nothing but the knowledge
That I bring with myself!

And all that thinks
And is thought...

Hate me! Yes, hate me!
And then love me...
And swallow me, spit me,
And Learn me...

Cos' the major lesson
Is that I'll live forever in your hearts
Be you aware of that,
Or simply carry the pain of doubt!



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

FAUSTO, DE GOETHE


Uma das mais belas cenas da literatura ocidental:
Fausto, centenário e cego, ouve o barulho de pás, e de escavações, e crê que se realiza uma grande obra de drenagem de um terreno (ele está sempre aspirando às grandes coisas), obra que ele já planejara e ordenara  antes da cegueira, mas... o que se faz é cavar a cova dele, ordem dada por Mefistófeles. Os "operários" são lêmures, servos do "baixíssimo".
Que poder de símbolo tem essa passagem!... Seria o quê? O homem que, dia após dia, tropeço após tropeço,  anela grandes feitos, mas, trágica e ironicamente, só faz se preparar para a tumba?... Bem, essa é a minha leitura, assim, fresquinha, logo após fechar o livro. Trata-se, no entanto, de uma obra cuja fortuna crítica, como bem aponta o responsável pela edição que li, o prof. Marcus Vinícius Mazzari, já ultrapassa os dez mil títulos. Se alguém se dedicar, a vida toda, a só ler sobre o Fausto, ainda assim não conseguirá ler tudo o que já foi publicado... Ou seja: possibilidades interpretativas infinitas.
Só resta dizer: amigos, houve alguns gênios literários em nossa história, mas só houve um Johann Wolfgang von Goethe.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O ALMOÇO

O ALMOÇO

A hora é calma, vazia,
Mas a comida não é insossa;
Lá fora estão esburacando a rua,
Enquanto eu penso em mulheres nuas,
E como minha pêra doce,
Antepasto excêntrico, como os dias
Que preparam a morte...

Estou só, e almoço,
Numa cozinha tão despida de encantos,
E o instante a chamar-me à coerência,
A olhar somente à frente,
E esquecer passados prantos,
E superar os destroços
De minha indecifrável sorte...

Mas este momento revela mais em si:
Nele, materializa-se o inescapável,
A eterna lavra do quotidiano,
A religião sem nome do devir.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

UM POEMA.


descobriram o gesto da estátua,
e de pronto o negaram.
era tamanha escárnio, tal pestilência,
que dna. mariquita, sempre solícita,
não hesitou em ceder o seu impressionável xale preto
para cobri-lo.
correram a chamar o Juiz,
que do alto de seu nobilíssimo salto,
vociferou cinco infernos espicaçou o gesto e espalhou os restos
pelos postes nas estradas.

desde então,
em segredo o adoram
(o gesto).

domingo, 16 de setembro de 2012

Picôolé

...Foi o Evandro - Vandrinho, como todos o chamavam - um sabadão desses voltando da praia com o isopor vazio, um sorriso em forma de andorinha na cara, quem deu ao Pedro a ideia de ir vender picolé lá em Itaúna. - "Quanto você conseguiu hoje?" - "De lucro, dezoito reais!" - "Dezoito?!... Puxa!..." e aquele "puxa" trouxe toda uma contabilidade consigo... Dava pra realizar um sonho: comprar uma guitarra Insbruck, daquelas que eram anunciadas nas revistinhas de letras cifradas. Custava R$ 180,00, era juntar dez sábados, ou cinco sábados e cinco domingos, e tava feito o negócio! Não precisava nem comprar um isopor, pois havia um dando sopa em casa. O que faltava era o dinheiro pro investimento inicial, e pra isso num tinha jeito, o caso era de pedir pros pais mesmo. Emprestado. Emprestado, ele frisou bem. O pai deu, mais pra se ver livre da insistência do garoto do que botando fé que ele ia conseguir pagar. Deu dez reais - "Se você for sábio, e der duro, com isso você consegue a sua guitarra." - ele disse, mais pra cumprir um dever pedagógico do que convicto do que dizia. No domingo mesmo, dia seguinte ao dos dezoito reais de lucro, o Vandrinho levava o Pedro na sorveteria onde ele comprava os picolés. Dez reais davam pra vinte picolés, que, sendo vendidos a um real cada, renderiam vinte reais, dez de lucro. Ele pagaria o pai, e repetiria a operação no fim de semana seguinte. Não é preciso ser gênio matemático pra perceber que seria possível, com alguns dias de vendas, aumentar a quantidade de picolés, e consequentemente o montante de lucro. Chegando na praia, ali em Saquarema, no canal que separa a praia da vila da de Itaúna, os dois amigos se separam - "Eu vou fazer a vila" - diz o Vandrinho - "E eu vou pra Itaúna mesmo" - "Boa sorte!" - "Boa, pra tu também" - e lá se iam os dois. O Pedro sabia que o Vandrinho voltaria com mais dinheiro do que tinha quando foi, ele só não sabia como o menino fazia isso... Enfim, lá ia o Pedro, atravessando o canal. A praia tava cheia, isso era muito bom. Mas... aqui vale desenvolver toda uma tese sociológica: a dos esquemas de comportamento. Quando se é novo num negócio, tende-se a seguir o esquema já pré-existente naquele ambiente; bom, pelo menos esse é o caminho dos tímidos, por ser o mais seguro - o tímido está sempre se perguntando "o que vão achar de mim?", "o que fulano vai achar?", "o que beltrana vai achar?", e se ele fizer igual ao que se fazia antes dele, ninguém vai poder achar nada de ruim dele... Pois é, e o esquema mais simples ali, o mais neutro, não precisa esperar os picolés derreterem analisando, era gritar picolé e esperar ser chamado pelos banhistas. Os mais caras-de-pau, e portanto os que vendiam mais, abordavam - "Vai um picolé aí, moça? Vai um picolé, senhora?" - mas o Pedro jamais, jamais teria coragem de fazer isso. O negócio pra ele era gritar mesmo. Mas... e pra gritar?... Ele tentou uma vez - "Picolé!" e saiu baixinho, e como se ele fosse um galo matinal, logo um outro menino respondeu cum altíssimo "Picôolé". Ah!... Isso sim era grito de vencedor, digo, de vendedor de picolé!... O acento não era no "lé", mas no "cô", quem teria sido o gênio da propaganda que inventara aquele deslocamento de acento?... Bom, isso quem pensa sou eu, agora, escrevendo o conto, que o menino Pedro, nos seus doze anos de idade, não pensou isso não. Ele pensou mesmo foi um palavrão no lugar de "gênio". Que dificuldade!... Outro problema: ele não conseguia andar no meio do pessoal pegando sol, era ficar desviando toda hora, e as pessoas olhavam pra ele, e aquilo, aquilo... Aquilo era de matar prum tímido, ultra tímido!... Mas ele precisava tentar, precisava lutar!... Uma saída: andar na parte molhada da areia, onde aqueles restinhos de onda vêm acariciar os tornozelos das pessoas, e ficar sem gritar mesmo, já que não conseguia, de jeito algum. Até que - Shazam!... - ele ouvia uma voz de mulher - "Garoto! Ei, garoto! Você do picolé!" - era com ele mesmo, uma venda, uma venda!... - "Oi dona..." - "Quanto é o picolé?" - "É um real..." - "Tem de quê?" - e ele abria o isopor, e de repente, de repente... deitada, do lado da moça que comprava um picolé dele, tava uma outra moça, de barriga pra cima, joelhos dobrados, e um pequeno problema no biquíni: o fio que deveria estar tapando a vagina não estava exatamente no lugar, mas sim um pouco pro lado, e então... E então o pinto do Pedro, que já não era mais tão pequeno - ele tinha doze anos... - ficou duro. A moça que comprava o picolé viu, e deu uma risadinha só de ar. Ela viu o pinto dele duro, mas não viu a razão. O menino não conseguia se controlar, suando feito um cavalo de corrida, até que a compradora do seu único picolé se condoeu dele e disse - "Vai lá tomar um banho de mar, vai. Eu olho o seu isopor..." - e ele assentiu, e foi. Mas não tinha jeito, ele precisava ir logo pra casa, resolver aquilo... Voltou, pegou o isopor - "Brigado, moça" - e arriscou mais uma olhadinha... Não... a xoxota que ele vira já estava coberta... Pra casa, então!... Ele precisava dum banheiro, urgente! E foi assim que o Pedro chegou em casa cum sorriso de condor - "Quê isso, menino?" - perguntou a mãe - "Vendeu tudo, pelo jeito?..." - "Nada mãe. Vendi só um. A praia tava vazia. Preciso dum banho, suei muito." - e a mãe nem se tocou que aquilo era a coisa mais estranha do mundo, o filho dela dizer que precisava dum banho.
Pois é, amigo, iniciei novo parágrafo, pois o que aconteceu na sequência os homens que já foram adolescentes tão cansados de saber, e as mulheres cuja experiência ao lidar com o sexo oposto é pelo menos razoável também. O fato é que depois do banho, o menino Pedro pegou o isopor, sentou-se na frente de casa, e chupou os dezenove picolés, feliz da vida, e eu tenho pra mim que ele ter esquecido da guitarra num vai deixar ninguém intrigado...

sábado, 8 de setembro de 2012

English poem

I saw a star the other night
and I built with it a most beautiful lie
I took the white forms of a face
and I hit it with the fine blade of a phrase
it had the word "love" in it
(that'd make with nose a good rhyme here)
but I said it with eyes really open
cos' the shadows around me were growing
(that isn't past yet
but it's impossible not to go ahead)
but my point here is actually a simple thing:
the face is She, and She's meant to be.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um amor, de Dino Buzzati

Um romance sobre o amor, tão perspicaz, tão profundo, tão lírico e ao mesmo tempo tão realista.
Sem estereótipos, sem idealizações, cético e... romântico.
O melhor livro que li, esse ano.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

AFORISMOS.

O imprescindível está sempre um degrau abaixo daquele que ocupamos.

Só o tempo sabe de fato se algo é ou não é indesculpável.

Viver sem mulher é como nadar e nadar sabendo que não se chegará a lugar algum.

A comodidade é inimiga da diligência.

Estupidez de verdade é seguir num caminho que já se provou equivocado.

domingo, 29 de julho de 2012

LUIZ ALBERTO MENDES

As Memórias de um sobrevivente são, para minha surpresa, um livro extraordinário. Ao final, e a despeito de um ou outro defeito, me vi tocado pela profunda verdade humana que o protagonista vivencia, verdade que começa no ódio, e acaba na descoberta da amizade sincera, e da força humanizadora da palavra escrita. Saio dele mais rico, mais compreensivo, mais escolado do que quando o comecei.
Recomendo.

sábado, 7 de julho de 2012

SINUCA EMBAIXO D'ÁGUA

Romance de estreia de Carol Bensimon, surpreende pela maturidade (27 anos ela tinha quando da publicação!) no tratamento de um tema delicado. Excelente leitura, surgida na tão mal-falada literatura brasileira contemporânea. Tendo a achar que o problema está nos críticos...

terça-feira, 3 de julho de 2012

NOVO BLOG

Pessoal, tenho um blog novo, com uma proposta diferente dessa aqui. É um blog de crônicas sobre literatura e vida de escritor/leitor. São textos mais longos do que os que eu ponho aqui no "filósofo", mais trabalhados e abrangentes, eu diria mais formais. Deem uma olhada, quando puderem: georgicasdoocio.blogspot.com.br
Abraço.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

POEMA ANTIGO


às vezes, quando venta de leve lá fora,
e o céu está limpo, pontilhado de estrelas,
ou cai uma chuvinha fina, que só molha
pontinhos no chão, e em tudo vê-se que reina

uma tranquilidade tão sutil, tão doce,
eu gosto de sair e sentar à varanda,
deixando o vento afagar-me suave o rosto,
e colhendo num brilho de estrela a lembrança

de tempos remotos de infância, quando a vida
era correr atrás de uma bola, pensando
só no que, de imediato e livre, o dia
oferecia aos olhos, presos no encanto

do não se preocupar, do pouco querer.
sinto pelos que não podem, como eu faço,
renovar as forças num amistoso abraço
no mundo-vida, e levantar... e viver.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA

Livro para ser, sobretudo, "matutado". Acabei de ler, e não sei bem o que dizer, mas como se não disser nada essas minhas fracas primeiras impressões se perderão, e com novas e novas leituras (de outros livros) acabarão por restar apenas restos de simplicidades, imagens fragmentárias do que li, então - então aqui vai o que calou em mim:

A condução do enredo, com uma reviravolta no final, amalgama a "grande literatura" (por falta de melhor termo) com a literatura de mercado, nada demais, algo que Dostoievski fez em Crime e Castigo (muito ostensivamente), e em Os irmãos Karamázov (mais brilhantemente).    

A fraqueza inerente ao humano é, me parece, o motivo mestre do livro, sem perda do caráter contraditório de qualquer um de nós. São personagens fracas justamente porque fortes, e fortes porque fracas. Duas faces indissociáveis de seres ficcionais tão intensamente vivos como estes.

Não fossem alguns deslizes de linguagem, notados esparsamente, seria o caso de chamar a Crônica de Lúcio Cardoso de obra-prima.

Quase a chamo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

IMPROVISO INTERNÉTICO


Ademais, nada demais:

Tudo fora, tudo volta,
E me afronta, e me transtorna;
Tudo vence, tudo treme,
E me pressente, e me distende.

Sou azul como o céu,
Sou turvo como a nuvem.

E o raio é meu embaixador,
Junto à superfície bravia.


sábado, 26 de maio de 2012

UMA DESCOBERTA

De Paulo Honório para Madalena:

O POEMA DE CECÍLIA MEIRELES:

ELEGIA A UMA PEQUENA BORBOLETA

Como chegavas do casulo,
- inacabada seda viva! -,
tuas antenas, fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeria,
com mais sonho e silêncio que asas,

minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus medos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo,
que no estame não pesaria.

Choro esta humana insuficiência:
- a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos - violências
que o sonho e a graça prostram mortos.

Pudesse a etéreos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
- voo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!





LITERATURA COMO UMA FORMA DE ASCESE

Escrever é muito, muito difícil. Escrever com originalidade, muito mais. Escrever com originalidade e beleza, uma tarefa hercúlea. E escrever com originalidade, beleza e acuidade (imprescindível na arte literária), aí... quase impossível. Mas há pessoas que conseguem. Pergunto: conseguirão sem esforço?
Há poetas - eu entre eles - que escrevem um poema em quinze minutos. Mas isso só acontece num estágio que sucede estudos prolongados e extenuantes, toda uma vida dedicada à descoberta e ao aprimoramento de uma voz literária. Uma vez encontrada essa voz, e lapidada, pode-se dizer que se torna mais fácil (menos difícil) a escrita (esclarecendo que não é porque determinada escrita se realiza rapidamente que se possa chamá-la de "fácil". Eu sou um que despendo uma quantidade enorme de energia em dez minutos de criação poética).
O fato é que são necessários anos e anos, décadas, para formar um escritor digno de ser lido. E uma solidão imensurável, toda uma gama de infelicidades e sofrimento que apenas em poucos casos acabam por se tornar benfazejos. Assim, se alguém enfim descobre que é um escritor, esse(a) "louco(a)" já está tão acostumado(a) a sofrer, que consegue (e só assim se consegue) enfrentar o processo de criação literária com "sucesso" (essa palavra tão na moda).
Ou seja: escrever é uma forma de ascese, e o artista da palavra tem de ser um asceta.  
O estudo escrito da alma humana só se transforma em arte após seu autor perder o que convencionalmente chama-se de felicidade (inclusive a esperança de). Após ele se metamorfosear completamente em freak. Após a vida, em quase todos os seus aspectos e vertentes, derrotá-lo inapelavelmente.
Só então ele vence.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A RECHERCHE

Acabo de ler os sete volumes da Recherche. Um livro irrepetível (até porque repeti-lo não seria boa prática literária). Vale pra ele o que Pound disse do Shandy (conferir o ABC da literatura).
Sinto ter lido uma tradução. Preciso realmente aperfeiçoar o meu Francês, pra ler no original.
Confesso que passei por momentos de cansaço, durante essa empresa, mas... uma vez terminada, fica a sensação fortíssima de realidade, de concretude, de vida. Proust salvou-se do esquecimento, afinal.
Fica a dúvida cruel: alguém como Proust, com sua Recherche, só pode ser fruto de anos de ócio, e portanto de uma sociedade inigualitária. Compensa?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

MEU ATO


meu ato,
ingênuo, delicado,
de buscar
o ninho mais alto,
a ave rara,
no fino ramo,
o ramo mais frágil.

meu ato,
distante, solitário,
de riscar
o arco indiferente,
a reta clara,
na límpida pedra,
pedra somente.

meu ato, meu teatro,
armado no Tempo,
meu ato ingênuo
de ler o silêncio,
e traçar o arco,
meu ato: meu retrato.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

UMA TIRADA MUITO SÉRIA


sócrates era bacana.
sócrates morreu.

jesus cristo era bacana.
jesus cristo morreu.

napoleão era bacana.
napoleão morreu.

che guevara era bacana.
che guevara morreu.

até o kurt kobain era bacana.
até o kurt kobain morreu.

o seu manoel!... da venda ali da esquina!... era bacana.
o seu manoel!... da venda ali da esquina!... morreu.

eu sou bacana,
e adoro coxinha.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

SONETO MUITO IMPORTANTE

O tempo me descola de mim,
E me oferta a visão do Outro
Que um dia foi tão pouco
Ao tentar ser como Caim,

E matar o Abel indissolúvel,
A mancha de sujeira,
A pele, o osso e a gordura,
Que me vinham com a cheia

Do rio torto, desviado.
Não importa o quão inválido,
Frágil leque de penhoras,

Recolho do plâncton - escória,
Meu inestimável, puríssimo fardo,
E agradecido chamo-lhe - aprendizado.



terça-feira, 27 de março de 2012

ALINE, QUEM?

A gente se safa de cada uma...
E não é que constato que uma dada senhora já não me causa qualquer abalo!
Completamente esquecida.
E há tantas, tantas moças bonitas por onde eu tenho andado...
De fato, posso até dizer que tenho uma preferida, mas é muito, muito cedo ainda...
Só posso dizer: um brinde ao devir, que engole tudo, até o que nos causava dor!
 

sábado, 24 de março de 2012

POEMA PARA A SOLIDÃO

as paredes brancas
nada dizem. estão mudas.
nas janelas amarelas,
as cortinas não sorriem.
nem sequer balançam:
não há vento.
a um canto, o sofá,
o cinzento, sarcástico sofá,
cochila indiferente.

entretanto a tv assiste, extasiada,
ao lançamento do foguete
que parte para marte.
- p-p-p-para a conquista de marte!

sábado, 17 de março de 2012

A FICHA

A gente faz tanta coisa com a certeza de que está certo, às vezes mesmo se acha impecável, e de repente... De repente, cai uma ficha, e a gente percebe que andou de nariz empinado um tempão. A soberba...
Se me caiu a ficha? Caiu. Preciso rever minha postura, meus conceitos...
No entanto, não é caso pra me colocar no rol dos "males a combater"...

quarta-feira, 14 de março de 2012

CANÇÃO METAFÍSICA

Agora é sempre ontem
Amanhã não chega nunca

Sempre que o suor me lava
Vem uma dúvida e enxuga

Não desejar absolutamente nada
E ainda assim amar a chuva

Final: me renovo no beijo dela
E planto na eternidade uma muda.

sábado, 10 de março de 2012

ÚLTIMA TENTATIVA

A última tentativa é sempre a primeira que se leva a cabo com uma perspectiva realista de seus prováveis resultados.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

AS PEDRAS

Atravessar, no espaço de uma vida, os caminhos que surgem à nossa frente, e que compõem para nós o mundo, não é difícil: submeter-nos aos ciclos de nosso sonhar - nascimento, desenvolvimento / adesão, e morte / desilusão - é que torna essa travessia tortuosa e torturante.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O POEMA QUE EU MAIS GOSTO DO BANDEIRA

VELHA CHÁCARA

A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.

Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)

A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...

-- Mas o menino ainda existe.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O "POEMA-PREFÁCIO" DE MEU PRIMEIRO LIVRO (AINDA INÉDITO)


há, de tudo e sempre,
algo que resiste,
que pede surdamente
pelo retrato no papel,
e além do Tempo vive.

é a matéria anoitecida,
crua, sob a superfície,
alimento pra versos
inda verdes, tateantes,
em busca da luz do dia.

inútil querer evitá-los,
ou talvez dissolvê-los,
no divã dum analista.
antes, dar-lhes forma,
tal que neles possa,
livre do perecimento,
resguardar-se: a Vida.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NO CAMINHO DE SWANN

Eu já tinha começado três vezes esse livro, o primeiro da Recherche, e por motivos diversos não terminara. Sempre aparecia alguma coisa que me fazia largá-lo. Entre essas coisas, a ponderação que tem muito de engano: "eu não tenho os outros volumes, de que adianta ler o primeiro?". Ora, acabo de terminá-lo, e se, por um lado, já comprei os outros, todos, por outro vejo que a leitura só do primeiro tem muito de proveitosa. Há uma coerência interna. Há começo, meio, e fim (que a Modernidade já descobriu não serem absolutamente necessários...). Tendo dito isso, acrescento que dedicarei parte dos próximos meses à leitura de toda a Recherche (hoje mesmo já comecei À sombra das raparigas em flor). Só posso dizer: que delícia!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PROMETEU-EPIMETEU

Prometeu é o personagem grego que rouba o fogo dos deuses; Epimeteu é seu irmão idiota.
"Prometeu" significa "aquele que enxerga antes", e "Epimeteu" "aquele que enxerga depois". Pois bem. O pouco que já aprendi sobre a vida me inclina a pensar que há, e haverá sempre, ocasiões nas quais somos Prometeus, isto é, enxergamos antes, exercemos um papel inteligente, e outras ocasiões nas quais somos Epimeteus, isto é, somos levados pela corrente, logrados, passados para trás, etc. A dualidade instaurada pelos dois irmãos caracteriza o comportamento humano, seja o de pessoas consideradas inteligentes, seja o das menos dotadas. É impossível ser inteligente todo o tempo, e também difícil não acertar de vez em quando, por mais desprivilegiado que se seja.
Mas devo ir além, e aqui está o meu point: é preciso querer ser Prometeu. São precisos uma atenção especial a tudo o que está ao redor, e a determinação de fazer bem-feito, o que quer que se faça. Só enxerga antes quem se volta para as coisas, quem lhes dá importância, quem lhes indaga a que vieram, e para onde vão.
Isso dito, acrescento que Prometeu é também "malandro", e engana Zeus num sacrifício. Isso, evidentemente, esse lado do nosso amigo, não deve ser imitado.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

PASSEI!

Entrei na USP de novo. Pra Letras. Sou, por assim dizer, um calouro-veterano, o que não me impedirá de ser pichado novamente, e tudo o mais.
Vou fazer o ciclo básico quase todo (Introdução aos Estudos Clássicos, Linguística e Introdução aos Estudos de Língua Portuguesa), devido a certas complicações burocráticas, mas isso não é problema. Até que gostei da solução. No final do ano, ranqueamento: devo optar pelo Inglês, se não mudar de ideia até lá...

domingo, 29 de janeiro de 2012

UMA HISTÓRIA DOS POVOS ÁRABES

Acabo de concluir a leitura do livro de Albert Hourani, e saio dessa empreitada muito mais rico do que quando entrei. Não é muito mais do que isso o que se pede do contato com livros de História. Na situação mundial dos nossos dias, me parece essa uma leitura essencial para nós, ocidentais. No porão da polarização EUA - China, fervem as aspirações, a revolta, o fanatismo, e também o pensamento esclarecido, dos povos árabes. Eu disse "porão"?... Sim, porão. E o 11 de Setembro mostrou que os ratos às vezes dão as caras na sala de estar, e isso pode ser uma verdadeira tragédia para ladies and gentlemen tão conscienciosos, como nossos amiguinhos donos da verdade e do mundo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

AQUALUNG

Acabo de ouvir um disco que não ouvia há bem uns dez anos: Aqualung, do Jethro Tull. Foi como se eu remoçasse na medida exata do tempo que passei sem contato com essa obra-prima. Me vi tomado dum entusiasmo que aparece cada vez mais raramente, conforme vou envelhecendo. A faixa-título, forte e delicada ao mesmo tempo, Cheap day return, puro lirismo, Cross eyed Mary e Locomotive breath, energia que pulsa dentro de um arranjo que só pode ser perfeito... Quanta alegria, de início expansiva, depois reflexiva, calma como um lago, não senti com essa quase miraculosa redescoberta!...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

UM POEMA


o Tempo inclinou a parede.
trouxe poeira aos olhos.
espalhou nódoas amareladas pela memória
indefesa.
observo quieto o meticuloso trabalho.
um sorriso de criança,
deformado pela umidade,
convida pequenas lembranças.
saudades de não-saber.
da vida a dois palmos dos olhos,
sem palco e sem porquê.
mas as teias que ornam a moldura denunciam meu descaso.
terei esquecido?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

USP

Fui, no geral, bastante bem no FUVEST 2012. Acho que entro. Na verdade, só não entro se uma hecatombe acontecer. Quero fazer Inglês, ou Francês, ou Alemão, que são as três línguas estrangeiras que já conheço, mas não sou fluente. Acho que devo aperfeiçoar o que já sei, antes de acrescentar novas línguas.
E como meu trabalho, a partir desse ano, se restringirá mesmo a escrever, por motivos de ordem pessoalíssima, acho que empregar tempo e fosfato no estudo de literaturas estrangeiras só me enriquecerá. Trata-se de um investimento.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A IMORTALIDADE, DO GENIAL MILAN KUNDERA

Terminei hoje, agora há pouco.
Um raciocínio simples: há, aproximadamente, 7 bilhões de pessoas na terra. Mas há um número bem mais reduzido de gestos possíveis de ser executados por essas pessoas. Logo elas se repetem. Tudo muito lógico. Mas... Kundera dá um salto, a partir daí: para seu narrador, são os gestos que se servem das pessoas, e não o contrário. De um gesto visto num clube nasce a heroína do romance, mas esse gesto, por assim dizer criador, não contém a chave do livro. A chave do livro é o gesto de escrever, de criar literatura. O romancista não se serve dele, é ele quem se serve do romancista. E o faz em nome de quê? Numa palavra: da imortalidade. A escrita, impulsionada pelo desejo de perpetuação que nosso self não pode tolher em si mesmo, serve-se dos escritores, para que assim a humanidade possa se ver num espelho que durará tanto quanto durar a linguagem.
Outro ponto: para alcançar a imortalidade, é preciso criar uma personagem de si-mesmo. Só as personagens duram; as pessoas passam, inexoravelmente.
Haveria ainda inúmeros pontos a assinalar acerca de A imortalidade, mas o caso é que ainda o estou digerindo.
Em todo caso, leia. Só se tem a ganhar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

PATRICK SWAYZE, E DEPOIS...

Quando eu tinha 14 anos, me apaixonei por Gisele, uma menina mais velha, da oitava série (eu era da sétima). Estudávamos na Escola Municipal Nair Valadares, de Araruama, RJ. Ela era fã de New Kids On The Block, e o filme de que mais falava, provavelmente o que mais amava, era Ghost, com Patrick Swayze e Demi Moore. Eu queria conhecer tudo o que ela gostava, queria entrar na vida dela, mas... não conhecia New Kids, e nunca tinha visto Ghost... O primeiro item eu rapidamente sanei, mas o segundo... Só fui ver Ghost já aqui em São Paulo, quando era praticamente impossível trazer Gisele pra minha vida... De algum modo essa tragédia fixou uma importância além do que é corriqueiro à imagem de Swayze, no âmbito de minha ingênua juventude.
Esse é um ponto.
Logo que cheguei em São Paulo, em 1992 (eu tinha quinze anos), assisti a Caçadores de Emoção (não sei o título original...), com Swayze e Keanu Reeves, e o seu, por assim dizer, "espírito de aventura", me ganhou, numa época em que o meu senso crítico era muito frágil, e a vontade de viver com máxima intensidade era minha luz-guia. Sobretudo o personagem de Swayze, com sua exagerada energia vital, me dizia algo muito profundo acerca de mim mesmo, e também acerca do mundo no qual eu queria viver.
Esse o outro ponto.
Os dois pontos me são úteis ao tentar entender o que senti, agora há pouco, vendo a foto que a esposa do ator tirou dele, pouco antes de ele morrer. Sem cabelos nem sobrancelhas, dormindo no sofá, ao lado do gato, provavelmente ouvindo "o som da inevitabilidade", essa figura é, pra mim, o adeus de uma espécie de símbolo do que um dia eu quis ser, e também um símbolo de uma parte importantíssima de minha adolescência, sobretudo no que ela tem de indissoluvelmente ligado a Gisele. Na verdade, o velho chavão - "o tempo passa, implacavelmente" -, se mostrou, por meio dessa foto, com toda a sua força destrutiva a meus olhos, que começam a ver, tragicamente, a despedida dos heróis de juventude.
Estou ficando velho... Os heróis de meu passado estão dizendo adeus, e só posso, um tanto desiludidamente, fazer isto aqui que estou fazendo agora...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O FANTASMA DA ÓPERA, AGAIN...

Acabo de assistir à versão do Joel Schumacher e do Andrew L. Webber.
Devo admitir que o filme, apesar de certos defeitos (elos faltando, inverossimilhanças, etc.), me conquistou conforme eu o via... Quero dizer: comecei bem crítico, não gostando muito, mas aos poucos fui notando a beleza das músicas, e o apelo de algumas cenas, e no final... Bom, no final o conjunto me deixou uma boa impressão. Um bom filme. Mas... não tudo o que a ideia do "gárgula" apaixonado pode render. Uma ideia tão velha quanto a literatura, e eu nunca vi nada que fizesse jus a ela.
Então... Sim: vou me arriscar. Como já postei aqui, vou escrever a minha versão. Se minha tentativa vai estar à altura desse arquétipo, tão poderoso, não sei... Mas o que teria vindo a público se os autores se deixassem derrubar pela grandeza de seus modelos?
Lá pelo ano 2020 devo estar com ela pronta, rs...
Até lá, então!